Historia

Sobre a Historia da Capoeira...
Tem muitos relatos que só foram transmitidos pela tradição oral e alguns documentos que apresentam a história da capoeira desde pontos de vista diversos e muitas hipóteses porem não há consenso sobre sua origem, por exemplo, alguns defendem que é uma arte urbana e muitos outros rural, não temos como defender a ferro e fogo teorias de uma história onde nós ainda nem eramos vivos o que sobra é fazer uma análise crítica o mais objetiva possível a partir dos documentos existentes e os relatos de alguns mestres que tem informações que não foram escritas, partindo disso e fazendo uma breve identificação e caracterização a arte capoeira é o resultado do sincretismo cultural entre os diferentes povos africanos, europeios e nativos indígenas, os últimos geralmente segregados da maioria de textos escritos sobre capoeira um paradoxo tendo em conta que a etimologia da palavra mesma é de origem tupi-guarani, enquanto a sua origem existem diversas hipóteses: Quem não ouviu falar que a capoeira nasceu na Bahia? Essa é só uma delas, outra, por exemplo, diz que surgiu no Quilombo dos Palmares, na antiga Capitania de Pernambuco no atual estado de Alagoas, os cariocas falam que nasceu no Rio de Janeiro, alguns dizem que veio da África e outros que é uma arte genuinamente brasileira e assim cada um defende uma ou outra como é normal numa sociedade de caráter competitivo como a brasileira, além disso, tem relativamente poucos registros escritos não só com relação à capoeira como a todas as manifestações culturais afro-brasileiras, em relação essa limitada documentação em parte se atribui a responsabilidade ao ministro Rui Barbosa pela ordem da queima dos arquivos relacionados com a escravidão em 1890 no governo de Deodoro da Fonseca.
Crime e repressão
No século XIX começou no Rio de Janeiro a criação de grupos de 20 e até mais de 100 pessoas conformadas por escravos e libertos, o nome com que foram catalogados esses bandos eram Maltas e algumas delas foram: Conceição da Marinha, Moura, Carpinteiros de São José, Gloria, Cadeira da Senhora, Três Cachos, Franciscanos, Flor da Gente, Monturo, Espada, entre outras, no final do Brasil colonial e começo da República, essas maltas se consolidaram em dois grupos maiores: Guaiamuns que atuavam na cidade nova na região central ligados ao partido liberal e os Nagoas que atuavam na periferia e estavam ligados ao partido conservador, muitos desses capoeiras ainda não eram livres e seus senhores prometeram que se voltavam vivos da Guerra do Paraguai iriam assinar sua alforria, foi uma época de muita violência entre as maltas andavam armados com navalhas e porretes as brigas entre os dois bandos não conseguiam ser controladas pela polícia da época com tudo como a capoeira era praticada pela maioria dos integrantes das maltas cariocas passou a ser relacionada com a criminalidade porque os governantes sempre tinham como inimiga perigosa e sem dúvida capaz de desestabilizar a ordem política e social, um fato histórico foi que o dia 13 de maio de 1888 foi sancionada a Lei Áurea que aboliu oficialmente da escravatura no Brasil, porém os libertos continuavam sendo maltratados, perseguidos e subjugados, com uma dificuldade evidente para ser aceitos pela sociedade o preconceito racial se tornou mais evidente, os donos dos poderes apoiados pela igreja católica fizeram o possível para proibir algumas práticas culturais e religiosas, com relação a nossa arte propriamente no Código Penal Decreto N. 847, de 11 de outubro de 1890. Capítulo XIII, Dos vadios e capoeiras. Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordem, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal. Pena: de prisão celular por dois a seis meses. Parágrafo único. É considerada circunstância agravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças, se imporá a pena em dobro com relação ao candomblé, por exemplo, estava no Código Criminal de (1890), que considerava como crimes o curandeirismo, (art. 158) e o espiritismo (art. 197), foi nesse período de perseguição onde os desordeiros começaram a inventar apelidos para evitar ser identificados com seus nomes verdadeiros e assim atrapalhar o processo de judicialização quando eram pegos pela polícia, isso também levou a que chamassem a capoeira de outra forma para evitar a repressão ela começou a ser chamada de "pernada carioca" muitos com a proibição por lei foram presos e após sair da cadeia continuavam sendo um problema e os políticos então conforme aconteceu com os causantes das revoltas da Vacina e a Chibata muitos foram desterrados e enviados em navios-prisões por Belém do Pará e Manaus até desembarcar no território (hoje estado) do Acre que era bem mais longe que a ilha de Fernando de Noronha lugar que também utilizavam para isolar a esses presos.


Capadócios, valentões e bambas
Os nomes de vários capoeiras ficaram registrados em alguns livros e jornais, porém alguns se tornaram lendas urbanas que só passaram a través da tradição oral todos ganharam de alguma forma um espaço na história a lista é não exaustiva por tanto podem ficar alguns de fora e não estão seguindo uma ordem cronológica também é importante ressaltar que várias dessas pessoas eram mulheres e merecem o reconhecimento que nossas sociedades historicamente machistas tentou minimizar.
Mulheres: Almerinda, Menininha e Chicai (A malta de saias), Francisca Albino dos Santos (Chicão), Antônia (Cattú), Maria (Doze Homem) Angélica (Endiabrada), Cândida Rosa de Jesus (Rosa Palmeirão), Júlia (Fogareira), Maria (Pé no mato)
Homens: Aristides José Santana (Cabeçada Mortal), Aristides José Santana Manoel Benício dos Passos (Macaco Beleza), Alfredo Martins (Caboclinho), Manoel Henrique Pereira (Besouro Mangangá), Nascimento Grande, Adama, Chico Cândido, Antonio Florentino, Amaro Preto, Sabe Tudo, José Siri, Samuel (Querido de Deus), Argemiro (Olho de Pombo), Feliciano (Bigode de Seda), Pedro Porreta, Inimigo sem Tripa, Sete Mortes, Manoel Joaquim do Nascimento (Manduca da Praia), João Francisco dos Santos (Madame Satã), Horácio José da Silva (Prata Preta)

Angola e Regional
Quase na mesma época nasciam em Salvador dois dos nomes mais reconhecidos que iriam mudar a história da capoeiragem para sempre Vicente Ferreira Pastinha (1889-1981) e Manoel dos Reis Machado Bimba (1899-1974) os dois aprenderam a jogar capoeira com os africanos Benedito e Bentinho respectivamente desde crianças, na década de 1930 esses dois mestres se tornaram famosos em Salvador, para mim a visão desses dois mestres dividiu a história em duas partes e mesmo que alguns tentaram criar uma suposta rivalidade entre os dois eles sempre demonstraram muito respeito um pelo outro, a divisão no meu ponto de vista estava mais na postura purista de Pastinha em contraste com a postura inovadora do Bimba.
A Luta Regional Baiana foi criada pelo mestre Bimba com algumas características diferenciadas comparadas com a capoeira tradicional, não podemos esquecer que para essa época a capoeira e o candomblé ainda eram considerados crimes então o caráter esportivo e o fato de tirar o atabaque do jogo da "nova luta" para não ser relacionada com a religião geraram o impacto que foi necessário para que a classe política da época pudesse tirar a capoeira do código penal, pela parte do mestre Pastinha tentava manter as características tradicionais da capoeira de Angola porque para ele a origem da capoeira estava na África, em 1966 conseguiu viajar a esse continente com alguns dos seus alunos a fazer uma apresentação de capoeira no 1º Festival de Artes Negras em Dakar - Senegal.
Contemporânea
Através do trabalho feito por Pastinha e Bimba que já eram conhecidos quase em todo Brasil e seus sucessores começou na década dos 50 uma nova etapa da capoeira, as rodas tradicionais como a organizada pelo Mestre Waldemar da Liberdade no seu Barracão se tornou ponto de encontro para muitos capoeiras e turistas da época assim como a particularidade das pinturas que usava nos seus berimbaus que fabricava, com o auge das manifestações artísticas como a música, dança contemporânea, teatro, artes plásticas os capoeiristas começaram a levar a capoeira para os cenários assim como muitos capoeiristas da Bahia começaram a viajar para outros estados procurando melhores oportunidades econômicas, para essa década o Mestre Arthur Emídio chega no Rio de Janeiro começando um trabalho de capoeira nessa cidade, e alguns dos seus alunos se tornaram grandes nomes como Leopoldina, Celso do Engenho da Rainha, Paulo Gomes, Djalma Bandeira e Vilmar enquanto tudo isso acontecia na zona norte do Rio, na zona Sul em 1964 os irmãos Rafael e Paulo Flores após ter treinado na Bahia com mestre Bimba e compartilhado nas rodas de vários mestres começam a ensinar capoeira fundando depois o Grupo Senzala um dos primeiros com uma visão organizacional aplicando metodologias e estruturas ao seu processo isso permitiu que o Grupo Senzala se tornara conhecido no Brasil e depois no mundo, já nessa etapa se começou a prática conjunta das duas vertentes e assim o conceito capoeira contemporânea nasce sem a divisão pegando elementos das duas e criando novos jogos e metodologias, também para essa mesma época começaram a se implementar os primeiros sistemas de graduações com cordas, pois até então só os lenços da capoeira regional tinham representado algumas cores e distinções hierárquicas.